"O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos" - Eleanor Roosevelt.



terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ANO 2025 - (ou seja, daqui a 11 anos)

Uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação: 
 - Vovô, por que o mundo está acabando? 
   
  A calma da pergunta revela a inocência da alma infantil. E no mesmo tom vem a resposta: 
   
  - Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo. 
   
  - Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor? 
   
O avô responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam  conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.  
- Eles ensinavam tudo isso?  Eles eram sábios? 
 - Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos. 
    - E como foi que eles desapareceram, vovô? 
   - Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra ao certo do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa. 

    Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito para com os professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer "eu estou pagando e você tem que me ensinar", ou "eu vou parar  que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você", ou ainda "meu pai me dá mais de mesada do que você ganha". Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo "gerenciar a relação com o aluno". Os professores eram vítimas da violência - física, verbal e moral - que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo. 
Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. "Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular", diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de ideias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas.

Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério. 

   Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas "bem sucedidas" eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, pagodeiros, agiotas, traficantes, artistas de novelas da televisão, pessoas da sociedade que ganhavam milhões, em dinheiro, somente participando de programas imorais - enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade. 
Autor desconhecido.
ATENÇÃO: Qualquer semelhança com a situação do Brasil nesse sentido é mera coincidência.
Fotos do Google.

sábado, 23 de novembro de 2013

MAIS UMA PERSONALIDADE DE PARELHEIROS

Baseado no texto de Carlos Santana
De Associação UNIFAG - Publicado em "Voz do Bairro"


LUTO EM VARGEM GRANDE - FALECEU NO DIA 22/11/2013, DONA LUCIMA ATUAL PRESIDENTE DA "ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO BAIRRO"

Nossa história fala de uma mulher que viveu pra ajudar outras pessoas. D. Lucima Barbosa, (atual presidente da Associação Amigos do Bairro Vargem Grande) foi uma dessas pessoas como tantas outras que pagavam aluguel ou, vinda de outros Estados não tinham onde morar - na época um grupo de mais ou menos 1.500 famílias.

Em 1987 a UNIFAG (União das Favelas do Grajaú), criava um movimento em prol de moradia, e convidava as pessoas do bairro e adjacências a se reunirem, com o intuito de, juntando força pessoal e suas poucas economias pudessem adquirir sua casa própria.
A área escolhida para elas se instalarem foi uma fazenda improdutiva localizada entre o bairro de Parelheiros e Colônia, hoje Vargem Grande. Organizou-se um grupo de pessoas para, juntamente com a diretoria da UNIFAG, administrar esse enorme problema. Comprada a terra, dividida corretamente em lotes iguais e de acordo com o que havia sido combinado em reuniões, cada família pagou pelo seu lote permitindo assim que a entidade quitasse a compra da fazenda. As famílias começaram a se instalar no novo local fincado no meio de uma densa mata sem nenhuma infra-estrutura.

As pessoas começaram a preparar seus lotes para a construção de suas casas e bravamente a enfrentar as dificuldades que a falta de condições do local proporcionava; a maioria das pessoas trabalhava a semana inteira e o que ganhava mal dava para o sustento de suas famílias. Consequentemente, a falta de condições de muitas não permitindo o inicio da obra tão sonhada  improvisavam pequenas tendas, se mudavam com as famílias, e lentamente iam melhorando as condições da moradia. O sonho de não mais pagar aluguel, junto ao desejo da casa própria fez com que D. Lucima - a segunda família a se instalar no “novo bairro”, também fizesse parte desse grupo. Essa situação despertou a maldade de algumas pessoas, fazendo com que acontecesse uma série de crimes como roubos, extorsões, agressões, preconceitos, humilhações, homicídios e muitos outros incluindo o total desrespeitam a natureza. A comunidade se via indefesa diante dessa nova realidade, entre a necessidade de ter onde morar e a incapacidade de enfrentar essas pessoas.

D. Lucima, porém não se calava, e no meio desse povo lutava por justiça; a princípio contra a forma desumana com que eram tratadas as pessoas desprovidas de cultura, educação e dinheiro, que eram lesadas pela especulação, interesse e a ganância de alguns e, de outros que não podendo construir em seus terrenos eram ameaçadas, expulsas de suas áreas ou mortas. Dona Lucima então, sendo mais consciente dos seus direitos de cidadã e mais conhecedora dos órgãos de defesa pública começou a orientar essas pessoas prejudicadas e encaminhá-las aos locais adequados, onde conseguiam ajuda jurídica e suporte para resolverem seus problemas. Rapidamente a notícia se espalhou e de repente eram muitas pessoas pedindo ajuda, precisando de orientação, perdidas em problemas que para elas eram monstruosos e sem solução, D Lucima atendia e ajudava a todos, reunia grupo de moradores e explicava sobre os direitos dos cidadãos, principalmente os direitos humanos, jurídicos e o direito a uma vida digna. A comunidade foi ganhando conhecimento, ganhando força, tornando-se confiante e mais segura.

Como a ambição e ganância humana não têm limites, começou no local um grande desmatamento. As pessoas avançavam mata adentro, na intenção de abrir mais lotes, vender mais terras, o que levou D Lucima a indignação. Novamente ela toma a frente de outra luta: a luta pela preservação do meio ambiente. Depois de muita batalha em órgãos públicos, muita queixa, muita denuncia, e a pouca ou nenhuma providência das autoridades, ela percebeu que mesmo lutando em grupo o povo não era ouvido, eles precisavam de mais força. Desse conflito nasceu a ideia de uma entidade, um órgão devidamente registrado e autorizado a reivindicar e exigir direitos diante do Poder Público. Um órgão com mais poder de força do que o seu grupo.Nascer então a “Sociedade Amigos do Bairro”, com o objetivo de fazer com que os olhos das Autoridades Públicas se voltassem para aquele pequeno Bairro, para aquela comunidade sofrida e carente de justiça.

A Sociedade Amigos do Bairro foi um sucesso! Logo ficou conhecida e respeitada no meio público, ganhando a ternura e o reconhecimento de todos do lugar.
Trazendo tranquilidade para muitas pessoas e o desassossego a outras, a Sociedade ganhou força e volume, tornou-se “Associação” por uma determinação do Governo do Estado. Desde 1994 Dona Lucima nunca mais deu paz para as pessoas mal intencionadas; nunca se calou e continuou lutando por tudo em que acreditou, lutou pela promoção de renda à dona de casa,  contra a exclusão social e o preconceito, contra a fome, contra o abandono ao idoso, contra a gestação na adolescência orientando a juventude, contra a devastação ambiental. Esteve presente em todos os assuntos que requeressem garra, força e determinação.
AGORA, DONA LUCIMA, AMIGA GUERREIRA, DESCANSE EM PAZ!

sábado, 26 de outubro de 2013

ZÉ DO COCHILO

CARTA DO ZÉ DO COCHILO (da roça)
PARA SEU COLEGA (da cidade)

A carta a seguir adaptada por Barbosa Melo - foi escrita por Luciano Pizzicato  que é engenheiro florestal, especialista em direito sócio ambiental e empresário, diretor de Parque Nacional e Reservas do IBDF-IBAMA 88-89, detentor do primeiro Prêmio Nacional de Ecologia.

Prezado Luiz, quanto tempo.

Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo!... Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão e que por isso o sapato sujava.

Se não lembrou ainda, eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormir já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis?

Pois é. Estou pensando em mudar para viver aí na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos aí da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.

Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro de uma tal de APA que criaram aqui na vizinhança.

Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou, deve ser verdade, né Luís?

Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né ), contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou.

Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana, aí não param de fazer leite. Ô, os bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?

Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encompridar uma cama, só comprando outra, né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.

Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luís, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelos fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.

Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos, as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não vai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luís, aí quando vocês sujam o rio também pagam multa grande, né?

Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios aí da cidade

Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luís? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora! Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vir fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo, aí eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foram os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.

Tô preocupado, Luís, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, aí tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.

Eu vou morar aí com vocês, Luís. Mas fique tranquilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Aí é bom que vocês é só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem plantar, nem cuidar de galinha, nem porco, nem vaca, é só abrir a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.

Até mais Luis.

Ah, desculpe, Luís, não pude mandar a carta com papel reciclado, pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.

sábado, 31 de agosto de 2013

GENTE QUE FAZ A DIFERENÇA


No interior de SP catadora cria biblioteca com obras encontradas no lixo.
A catadora de recicláveis, Cleuza Aparecida Branco de Oliveira, 47 anos, sempre cultivou o sonho de ter uma biblioteca em sua casa, em Mirassol (455 km de São Paulo). Apaixonada por leitura queria poder emprestar livros a pessoas sem condições de comprá-los.

De tanto ver obras jogadas no lixo de escritores como Machado de Assis, José Saramago e Érico Veríssimo, Cleuza, então semi-analfabeta, passou a lê-las e pôde, neste ano, realizar seu sonho.

Foi guardando livros e inaugurou a biblioteca não em casa, mas na associação de catadores - da qual participa - localizada no centro de triagem do lixo.

O acervo já conta com 300 títulos. Criado e administrado por 11 catadores, o espaço tem um canto de leitura, uma brinquedoteca, uma área para discos, brechó e, claro, os livros.

A biblioteca não cobra pelo empréstimo das obras, mas quem quiser comprá-las há títulos repetidos; valor: R$ 0,50 por livro. A renda vai para a própria associação. O local também faz trocas.
"Não tem burocracia e não precisa preencher nada. Alguns levam para casa e outros optam por ler no próprio barracão", afirmou o biólogo Luiz Fernando Cireia, 31, incentivador e usuário do projeto.

Empresas de Mirassol também têm feito doações, que vão possibilitar, inclusive, a ampliação da área, de acordo com Cleuza.

Com salário de R$ 500 mensais, (salário mínimo na época) os catadores terão um pequeno acréscimo de renda, ainda não calculado, graças à venda de alguns títulos.

Mas Cleuza garante que o objetivo não é financeiro, é dar aos colegas a oportunidade de ler esses livros.


domingo, 19 de maio de 2013

OUTRA PERSONALIDADE DE PARELHEIROS


GENTE QUE FAZ
Zundi Murakami
fonte e foto: Guia Turístico “ecoturismo e agroecologia no extremo sul de São Paulo”
 
Agricultor experiente, vivido, mas não por isso menos entusiasmado; é referência em produção de banana, na região. Trabalhou como comerciante, foi metalúrgico e intérprete durante os 10 (dez) anos em que esteve no Japão. Atualmente, em seus 5 (cinco) hectares produtivos, cultiva bananas orgânicas. Zundi acredita que o turismo ecológico em Parelheiros será uma excelente oportunidade para estudantes e também para aproximar as crianças da realidade camponesa. Contente com a vida que leva, esse sábio agricultor afirma que “enquanto eu tiver saúde e coragem para trabalhar, estarei no campo”.

BOA IDEIA
VASOS DE PNEUS

sábado, 4 de maio de 2013

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL


Artigo de Sabrina Maria Fadel Becue*
Foto: Almanaque da água-Sabesp/Março 2006

A evolução do direito ambiental acompanha a crescente preocupação humana com o ambiente à sua volta. Mas somente na década de 1920, com a massificação das relações sociais, foi reconhecida a existência de direitos com metas individuais, entre eles, o direito à vida saudável. A tutela ambiental está assentada nesta premissa: necessidade de criar e preservar um ambiente adequado para desenvolvimento pleno do homem e das gerações futuras.

Pautado pelo objetivo exposto, as legislações e as declarações internacionais trazem uma série de princípios definidores da tutela ambiental, entre eles os princípios da precaução; do desenvolvimento sustentável; do poluidor-pagador; e da participação e responsabilidade comum, mas diferenciada. O princípio da precaução impõe que, na presença de dúvida quanto à segurança de um produto e no emprego de uma técnica ou incertezas em relação à ocorrência de dano ambiental, o ato deve ser evitado. Esse princípio sofre ferrenhas críticas em razão da sua abstração conceitual e aplicação casuística, já que os parâmetros de cientificidade variam de acordo com as normas de cada país. Contudo, elas não devem ser levadas a sério, visto que as políticas ambientais trabalham sempre com a potencialidade de dano e conseguem, mesmo assim, transformar a incerteza em dados e ações concretas através, por exemplo, do Estudo de Impacto Ambiental (EIA).

“Caminhando” lado a lado com o princípio da precaução, o princípio do desenvolvimento sustentável transmite a ideia de ação em longo prazo. A necessidade de tutelar a qualidade de vida das gerações futuras, manejando corretamente a escassez dos recursos naturais, veda práticas predatórias. Se por um lado a livre iniciativa e atividade de empresa são garantias constitucionais, por outro, o desenvolvimento tecnológico permite que as empresas subsistam e lucrem com a implementação de práticas limpas e com melhor aproveitamento dos recursos naturais. O princípio não pressupõe a ingenuidade do intérprete quanto aos danos gerados por toda atividade industrial. O risco é ínsito à sociedade contemporânea, mas é preciso achar um ponto de equilíbrio implantando técnicas alternativas e com a utilização racional dos meios naturais.

o princípio do poluidor-pagador imputa a todos que desenvolvem atividades impactantes ao meio ambiente uma responsabilização própria desse novo ramo do direito. O ordenamento transfere os custos com políticas de prevenção de danos, exige medidas de monitoramento da atividade e, configurada a lesão, impõe também a reparação. 
Atuando nessas três frentes ele consegue desmistificar a ideia de que o poluidor não será apenado se houver garantias quanto à capacidade de indenizar as vítimas: degradar o meio ambiente não é uma opção. O Estado visa a internalização dos custos causados pelas atividades poluidoras na estrutura de produção e consumo, em outras palavras, encarece as atividades danosas ao meio ambiente, primeiro porque o causador deve ser o maior responsabilizado pelos danos e, segundo, porque esse é um meio eficaz de prevenção e incentivo ao emprego de ‘técnicas limpas’.

Por fim, resta analisar o princípio da responsabilidade comum, mas diferenciada. Este princípio reconhece que, em primeiro lugar, os países desenvolvidos, além de possuírem mais recursos para investir na proteção ao ambiente, normalmente são os maiores responsáveis pelos danos gerados. Considera também as diferenças entre os ecossistemas do planeta. 

Todos nós devemos zelar pela preservação do meio ambiente, contudo, as frentes de atuações e os montantes de investimentos realizados se diversificam. O Fundo Multilateral, criado pelo Protocolo de Montreal, é a expressão mais saliente do princípio, pois concede ajuda financeira aos países em desenvolvimento, para que aperfeiçoem os produtos, de modo a não mais prejudicar a camada de ozônio. 
No âmbito interno, temos o Fundo Nacional de Meio Ambiente, instituído pela Lei 7.797/89, que prevê recursos públicos a serem manejados pela própria administração ou por entidades privadas sem fins lucrativos, sob supervisão da SEMA, para realização de projetos voltados às unidades de conservação, ao desenvolvimento tecnológico, ao controle ambiental, entre outros (art. 5º).  
Art. 5º Serão consideradas prioritárias as aplicações de recursos financeiros de que trata esta Lei, em projetos nas seguintes áreas:
        I - Unidade de Conservação;
        II - Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico;
        III - Educação Ambiental;
        IV - Manejo e Extensão Florestal;
        V - Desenvolvimento Institucional;
        VI - Controle Ambiental;
        VII - Aproveitamento Econômico Racional e Sustentável da Flora e Fauna Nativas.
        
§ 1º Os programas serão periodicamente revistos, de acordo com os princípios e diretrizes da política nacional de meio ambiente, devendo ser anualmente submetidos ao Congresso Nacional.

§ 2º Sem prejuízo das ações em âmbito nacional, será dada prioridade aos projetos que tenham sua área de atuação na Amazônia Legal.

Todos esses princípios são extraídos da sistemática adotada pelas legislações voltadas à proteção ambiental e tentam compatibilizar a ação humana com a necessidade de se proteger a natureza que nos circunda. Justamente por guardarem uma visão holística do processo de desenvolvimento social e dos danos que eventualmente este venha a causar ao ambiente, trazem em seu bojo medidas eficazes, quando aplicadas, para racionalização dos recursos naturais em prol da qualidade de vida.
 * Sabrina Maria Fadel Becue é membro do escritório Katzwinkel e Advogados Associados.

quinta-feira, 25 de abril de 2013