Baseado no texto de Carlos Santana
De Associação UNIFAG - Publicado em "Voz do Bairro"
De Associação UNIFAG - Publicado em "Voz do Bairro"
LUTO EM VARGEM GRANDE - FALECEU NO DIA 22/11/2013, DONA LUCIMA ATUAL PRESIDENTE DA "ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO BAIRRO"
Nossa história fala
de uma mulher que viveu pra ajudar outras pessoas. D. Lucima Barbosa, (atual
presidente da Associação Amigos do Bairro Vargem Grande) foi uma dessas pessoas
como tantas outras que pagavam aluguel ou, vinda de outros Estados não tinham
onde morar - na época um grupo de mais ou menos 1.500 famílias.
Em 1987 a UNIFAG
(União das Favelas do Grajaú), criava um movimento em prol de moradia, e
convidava as pessoas do bairro e adjacências a se reunirem, com o intuito de,
juntando força pessoal e suas poucas economias pudessem adquirir sua casa
própria.
A área escolhida
para elas se instalarem foi uma fazenda improdutiva localizada entre o bairro
de Parelheiros e Colônia, hoje Vargem Grande. Organizou-se um grupo de pessoas
para, juntamente com a diretoria da UNIFAG, administrar esse enorme problema.
Comprada a terra, dividida corretamente em lotes iguais e de acordo com o que
havia sido combinado em reuniões, cada família pagou pelo seu lote permitindo
assim que a entidade quitasse a compra da fazenda. As famílias começaram a se
instalar no novo local fincado no meio de uma densa mata sem nenhuma infra-estrutura.
As pessoas
começaram a preparar seus lotes para a construção de suas casas e bravamente a enfrentar
as dificuldades que a falta de condições do local proporcionava; a maioria das
pessoas trabalhava a semana inteira e o que ganhava mal dava para o sustento de
suas famílias. Consequentemente, a falta de condições de muitas não permitindo
o inicio da obra tão sonhada improvisavam pequenas tendas, se mudavam com
as famílias, e lentamente iam melhorando as condições da moradia. O sonho de
não mais pagar aluguel, junto ao desejo da casa própria fez com que D. Lucima -
a segunda família a se instalar no “novo bairro”, também fizesse parte desse
grupo. Essa situação despertou a maldade de algumas pessoas, fazendo com que acontecesse
uma série de crimes como roubos, extorsões, agressões, preconceitos,
humilhações, homicídios e muitos outros incluindo o total desrespeitam a
natureza. A comunidade se via indefesa diante dessa nova realidade, entre a
necessidade de ter onde morar e a incapacidade de enfrentar essas pessoas.
D. Lucima, porém
não se calava, e no meio desse povo lutava por justiça; a princípio contra a
forma desumana com que eram tratadas as pessoas desprovidas de cultura,
educação e dinheiro, que eram lesadas pela especulação, interesse e a ganância
de alguns e, de outros que não podendo construir em seus terrenos eram
ameaçadas, expulsas de suas áreas ou mortas. Dona Lucima então, sendo mais
consciente dos seus direitos de cidadã e mais conhecedora dos órgãos de defesa
pública começou a orientar essas pessoas prejudicadas e encaminhá-las aos
locais adequados, onde conseguiam ajuda jurídica e suporte para resolverem seus
problemas. Rapidamente a notícia se espalhou e de repente eram muitas pessoas
pedindo ajuda, precisando de orientação, perdidas em problemas que para elas
eram monstruosos e sem solução, D Lucima atendia e ajudava a todos, reunia grupo
de moradores e explicava sobre os direitos dos cidadãos, principalmente os
direitos humanos, jurídicos e o direito a uma vida digna. A comunidade foi
ganhando conhecimento, ganhando força, tornando-se confiante e mais segura.
Como a ambição e
ganância humana não têm limites, começou no local um grande desmatamento. As
pessoas avançavam mata adentro, na intenção de abrir mais lotes, vender mais
terras, o que levou D Lucima a indignação. Novamente ela toma a frente de outra
luta: a luta pela preservação do meio ambiente. Depois de muita batalha em
órgãos públicos, muita queixa, muita denuncia, e a pouca ou nenhuma providência
das autoridades, ela percebeu que mesmo lutando em grupo o povo não era ouvido,
eles precisavam de mais força. Desse conflito nasceu a ideia de uma entidade,
um órgão devidamente registrado e autorizado a reivindicar e exigir direitos
diante do Poder Público. Um órgão com mais poder de força do que o seu
grupo.Nascer então a “Sociedade Amigos do Bairro”, com o objetivo de fazer com
que os olhos das Autoridades Públicas se voltassem para aquele pequeno Bairro,
para aquela comunidade sofrida e carente de justiça.
A Sociedade Amigos
do Bairro foi um sucesso! Logo ficou conhecida e respeitada no meio público, ganhando
a ternura e o reconhecimento de todos do lugar.
Trazendo
tranquilidade para muitas pessoas e o desassossego a outras, a Sociedade ganhou
força e volume, tornou-se “Associação” por uma determinação do Governo do Estado.
Desde 1994 Dona Lucima nunca mais deu paz para as pessoas mal intencionadas;
nunca se calou e continuou lutando por tudo em que acreditou, lutou pela promoção
de renda à dona de casa, contra a
exclusão social e o preconceito, contra a fome, contra o abandono ao idoso, contra
a gestação na adolescência orientando a juventude, contra a devastação ambiental.
Esteve presente em todos os assuntos que requeressem garra, força e
determinação.
AGORA, DONA LUCIMA, AMIGA GUERREIRA,
DESCANSE EM PAZ!